Foi publicado um novo estudo no âmbito da Cátedra REN em Biodiversidade sobre a forma como a águia de Bonelli (Aquila fasciata) utiliza o espaço envolvente às linhas de transporte de energia. O objetivo foi perceber o impacto das linhas elétricas no habitat de espécies como esta, de forma a mitigar os riscos para os animais.
Para o estudo, desenvolvido nas serras do Algarve, foram utilizados dados de seguimento GPS-PTT de dezassete águias adultas para modelar a intensidade de uso do espaço em função da distância às linhas de transmissão e distribuição, tendo sido consideradas também outras características de habitat relevantes para esta espécie.
Os resultados mostraram que, ao nível populacional (conjunto dos indivíduos), as águias aumentaram a intensidade de uso do espaço na proximidade de linhas elétricas (até 1000 m), sugerindo um efeito de atração.
Ao nível individual, algumas águias compartilharam o padrão de atração geral da população, enquanto outras apresentaram reduzida intensidade de uso do espaço nas proximidades das linhas. Essas respostas diferenciais foram influenciadas pelas características da rede elétrica, com tendência para a atração aparente estar associada a indivíduos que ocupavam territórios com rede mais densa de linhas de transmissão. No entanto, não são de descartar a atuação de outros fatores potencialmente influentes, como idiossincrasias individuais, a distribuição espacial da disponibilidade de presas, a disponibilidade de poleiros naturais e locais de nidificação, ou o facto de algumas linhas existentes terem sido planeadas para evitar áreas com ocorrência conhecida da espécie.
No geral, estes resultados sugerem que as linhas elétricas podem gerar comportamentos diferentes e ter impactos diferenciados entre os indivíduos, os atraídos pela proximidade de linhas potencialmente enfrentando maior risco de mortalidade por eletrocussão (apenas em linhas de distribuição) e colisão (apesar de serem muitos escassos os registos deste fator de mortalidade), e aqueles que evitam linhas de energia potencialmente sujeitos a efeitos de exclusão.
Estes resultados reforçam a necessidade de entender a variabilidade individual ao avaliar e mitigar os impactos destas infraestruturas.
Para saber mais sobre este estudo, consulte aqui a publicação na íntegra (versão em inglês).
Sobre a Cátedra REN em Biodiversidade
A Cátedra REN em Biodiversidade foi criada em julho de 2015, no contexto de um protocolo estabelecido entre o CIBIO - Centro de Investigação em Biodiversidade e Recursos Genéticos (Universidade do Porto), a REN (Redes Energéticas Nacionais) e a FCT (Fundação para a Ciência e a Tecnologia). Tem como objetivo desenvolver um programa de investigação científica e de transferência de conhecimentos na Universidade do Porto, na área temática do impacte das linhas elétricas na biodiversidade.
A caracterização e compreensão de impactes negativos e positivos das Linhas de Muito Alta Tensão (LMAT), a avaliação da eficácia de medidas de minimização e compensação de impactes e a identificação de práticas de gestão que maximizem impactes positivos são as principais linhas de investigação da Cátedra.
Para além da sua componente científica, a Cátedra REN também contempla a assessoria científica à REN através do aconselhamento e apoio nos estudos de Avaliação de Impactes Ambientais (AIA) e na utilização de dados biológicos e técnicos recolhidos pela REN nos últimos 15 anos.